Quem quer ser próspero?

Essa busca a qualquer custo pela prosperidade material é uma das maiores ocupações do homem moderno. Tanto que chegamos ao absurdo de apenas 62 pessoas possuírem uma riqueza acumulada maior do que 50% da população mundial. Em outras palavras, 1% mais rico do mundo detém tanta riqueza quanto o resto dos habitantes do planeta¹. Dá para acreditar nisso?

Mas, nem sempre foi assim. Essa busca desenfreada e louca por riqueza, em escala global, é um fenômeno social relativamente novo. Quem já estudou antropologia cultural, sabe que não é assim em todas as culturas do mundo. Há aquelas comunidades que possui a chamada economia de subsistência, em que prover o pão para o dia presente é o essencial. São povos cuja economia se baseia na agricultura ou na pecuária e que só serve para alimentar e vestir a própria família ou grupo social e na qual não se produz excedentes para o comércio externo.

Lembro-me do meu primeiro estágio missionário foi em Cananéia, SP, num dos campos da MEAP – Missão Evangélica de Apoio aos Pescadores², num vilarejo chamado Ariri. Este lugar é o mundo de várias famílias de pescadores artesanais, também conhecidos como caiçaras, que levam suas vidas nos mangues e dentro da mata atlântica ainda virgem, um lugar de beleza sem igual, com sua riqueza de fauna e flora, jacarés, tatus, pacas, e aves como o biguá, patos selvagens, garças, arapongas e tucanos. Ali, ninguém pensa no luxo, nas facilidades da vida urbana, tais como iPad, iPhone, notebook, netbook, ebook, banda larga, tv à cabo, metrô, gás encanado, controle remoto, escada rolante, enfim, nada disso é desejado por esses povos e comunidades. “Vamo logo ali e fisgamos um pexim prô armoço e tá bom sô!”, me disse seu Valdemar um dos moradores isolados dessa região, durante evangelização que fazíamos.

Mas nós somos diferentes! Somos pessoas cheias de manias  e ambições. Queremos trocar de carro todos os anos, queremos casa própria na cidade, no campo e outra na praia, queremos fazer outra faculdade e seguir até o doutorado, queremos comprar um novo notebook, melhorar o plano de internet, reclamamos do wi-fi que está lento, gostamos de pizza de sexta-feira, almoçar fora aos domingos, comer lanche após o culto, queremos o novo exemplar da Bíblia de estudo recém-lançada, o que mais? Ah, lembrei! Quereremos viajar no final de ano com toda família para um lugar legal, pode ser no Brasil, mas precisa ser de avião. Essa é apenas uma pequena lista dos nossos desejos e projetos.

E olha que sou uma pessoa simples! Um amigo, sempre me diz que preciso de mais ambição, ser mais sonhador (risos). Talvez ele esteja certo, mas preciso encontrar uma forma de buscar riquezas, prosperidade material, aumentar o meu patrimônio para garantir o bem-estar para os meus filhos, mas conciliar isso tudo com a perspectiva de uma nova cidade no céu, sabedor que sou que vivo transitoriamente nesse mundo, que sou peregrino aqui, que o reino de Deus e a sua justiça é o que mais importa, que amar meu irmão necessitado exige atitude da minha parte, e esse caminho é algo que sempre achei complicado. E você, o que acha?

Sei que esse é o dilema de muitos irmãos. E muitos acabam apelando para as esquisitices do meio evangélico, recorrerem as campanhas mais malucas possíveis para receber sua benção da prosperidade: “Clube do Um Milhão de Almas”, “Corrente do 318 Pastores”, “Campanha da Restituição”, “Domingo das Causas Impossíveis”, “Clamor Pelo Crescimento Financeiro”, “Sexta-feira da Conquista de Gideão”, e tudo isso fica ainda mais interessante se for no Templo de Salomão da igreja Universal.

Um deles que visitou a faraônica construção na capital paulista, me disse cheio de temor: “A gente sente a presença de Deus naquele lugar incrível!”. Pura carnalidade, misticismo e ignorância das Escrituras, que afirma categoricamente que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. E até onde sei foram as mãos do Edir Macedo que erigiu aquele prédio de pedras, concreto e ferro. Mas, eu entendo esses irmãos, sei que eles são reféns desse século materialista. Alguns desses crentes são adoradores do diabo, que assim como ele fez com Jesus no alto de um monte, o inimigo também fez uma proposta tentadora a esses irmãos, oferecendo-lhes as glórias desse mundo em troca se prostrados o adorarem. Alguns deles aceitaram essa proposta maligna!

Hoje, enquanto aguardava no semáforo em frente uma igreja Plenitude do Trono de Deus, ouvia a pregação que oferecia prosperidade a qualquer custo, soluções sobre causas na justiça, enfim, em troca a pastora pedia apenas uma “semente” de R$ 100, R$ 50, R$ 20. Eu estava envergonhado, pensando no que os demais motoristas pensavam…. E o povo ali no salão, ignorando por completo a exortação de Paulo a Timóteo: “Porém os que querem ficar ricos caem em pecado, ao serem tentados, e ficam presos na armadilha de muitos desejos tolos, que fazem mal e levam as pessoas a se afundarem na desgraça e na destruição. Pois o amor ao dinheiro é uma fonte de todos os tipos de males. E algumas pessoas, por quererem tanto ter dinheiro, se desviaram da fé e encheram a sua vida de sofrimentos. Mas você, homem de Deus, fuja de tudo isso. Viva uma vida correta, de dedicação a Deus, de fé, de amor, de perseverança e de respeito pelos outros.” (1Tm 6:9-11).

Queridos, confesso, eu também quero prosperar, e estou lutando por isso. Mas, sem desespero, e que essa prosperidade venha como fruto do meu trabalho honesto, sem barganhar com Deus, sem precisar cair na malha dos falsos profetas da prosperidade. Sem me deixar iludir pelas riquezas desse mundo. E sobretudo, quero cumprir o meu ministério com excelência, amar a minha família e servir aos meus irmãos. Como exortou o Senhor Jesus, não fique ansioso pelo dia de amanhã, não se desespere por adquirir riquezas. Sempre consulte o seu coração, sobre o que o motiva para ficar rico. Pergunte-se a si mesmo: “Se eu enriquecer, serei generoso?”. Você é fiel no pouco? Sei que em dias tão confusos como estamos vivendo, a oração mais difícil de ser feita não é oração do “Pai nosso”, mas oração de Agur. Se você tiver coragem, faça-a neste dia!

“Eu te peço, ó Deus, que me dês duas coisas antes de eu morrer: Não me deixes mentir e não me deixes ficar nem rico nem pobre. Dá-me somente o alimento que preciso para viver. Porque, se eu tiver mais do que o necessário, poderei dizer que não preciso de ti. E, se eu ficar pobre, poderei roubar e assim envergonharei o teu nome, ó meu Deus.” (Pv 30:7-9).

¹http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/quem-sao-as-62-pessoas-cuja-riqueza-equivale-a-de-metade-do-mundo.html
² http://www.meap.org.br/

JAMIERSON OLIVEIRA – pastor titular e teólogo

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